Toquinho, Yamandu Costa - Bachianinha: Toquinho e Yamandu Costa (Live at Rio Montreux Jazz Festival) (2021) [Hi-Res]

  • 23 May, 19:28
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Artist:
Title: Bachianinha: Toquinho e Yamandu Costa (Live at Rio Montreux Jazz Festival)
Year Of Release: 2021
Label: MZA Music
Genre: Bossa nova, Brazilian, Guitar, Jazz
Quality: 16-bit/44.1kHz FLAC; 24-bit/44.1kHz FLAC
Total Time: 00:35:55
Total Size: 199; 382 MB
WebSite:

Toquinho estava em um quarto de hotel em São Paulo, na companhia do amigo e grande violonista Paulinho Nogueira, quando entrou pela porta o produtor Solon Siminovich apresentando-lhes Yamandu Costa, então com 16 anos. “Era adolescente ainda, mas bem gaúcho, vestindo poncho. E tocou violão para nós com precisão e fluidez”, recorda Toquinho ao Apple Music. Paulinho Nogueira se espantou com a rapidez do garoto recém-chegado, e Toquinho foi além: “Ele tocava bem pra cacete”. Yamandu também guarda memórias doces daquele encontro. “Foi uma amizade instantânea”, explica. “Nunca imaginaria que, um dia, dividiria um concerto com Toquinho e, muito menos, gravaria um álbum com ele.”

E foram mais de 20 anos de novos encontros improvisados entre Toquinho e Yamandu, seja nos palcos ou na vida, até o convite para a primeira apresentação oficialmente juntos, no Rio Montreux Jazz Festival, realizado sem plateia devido ao coronavírus e transmitido ao vivo em outubro de 2020. O registro da histórica união dos gigantes de diferentes gerações do violão brasileiro foi gravado, e assim surge Bachianinha, álbum cujo título deriva da música homônima de Paulinho Nogueira, aquele mesmo que estava com Toquinho no quarto de hotel e testemunhou o primeiro contato entre eles.

Com dois dias para os ensaios por morarem em países distantes (Toquinho no Brasil e Yamandu em Portugal), escolheram um repertório com referências ao passado e ao presente do violão brasileiro. A apresentação é dividida em momentos solo de cada um dos músicos (Yamandu, aliás, tocou uma música própria, criada um mês antes da apresentação, chamada “A Legrand”) e com os dois juntos no palco, é claro. “Quando nos juntamos, é como se fosse uma homenagem à forma de fazer música de tantos outros. A gente é cúmplice da mesma paixão pelo instrumento”, conta o gaúcho.

“Yamandu tem uma coisa do Sul que é única. E eu sou filho da bossa nova, sou urbano, de São Paulo, somos uma junção de dois mundos, mas são duas gerações indo para o mesmo caminho, trazendo tudo o que a gente tem na bagagem”, analisa Toquinho. Nessa maleta de herança musical estão Dorival Caymmi, Ernesto Nazareth, Baden Powell, Canhoto da Paraíba e Paulinho Nogueira, todos referenciados no repertório de Bachianinha. “Temos um pouco deles em cada um de nós. É lindo ser porta-voz deles, mesmo que seja em um acorde, no impulso da mão direita nas cordas ou na mão esquerda. Eles todos estão ali. Esse encontro é isto: uma homenagem à história do violão brasileiro. Aqueles que não estão entre os homenageados estão conosco nas nossas improvisações”, conclui o paulistano.

A seguir, Toquinho e Yamandu os guiam pelas faixas de Bachianinha, entre memórias, afetos, acordes e amor pelo instrumento. “Tocar violão deveria ser recomendado por especialistas, porque faz bem. Tipo comer salada. O mundo seria melhor”, brinca Yamandu, arrancando uma gargalhada de Toquinho, que responde: “Mas aí seria muita concorrência”.

O Bem Do Mar / Saudade Da Bahia (Live At Rio Montreux Jazz Festival)
Toquinho: “Para mim, Dorival Caymmi é fundamental. Todo mundo deveria estudar violão e Caymmi. Ele inventou a simplicidade, a sabedoria, é de uma grandeza enorme. Procurei fazer esse pot-pourri com músicas conhecidas dele. Me pareceu uma boa ideia começar com essa lembrança a ele.”

Asa Branca (Live At Rio Montreux Jazz Festival)
Toquinho: “Um dia, Chico Buarque chamou todo mundo na casa dele porque ele ia fazer um cozido. Foram Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Dorival Caymmi. E, de repente, vi que estavam os dois, Gonzagão e Dorival, em uma mesinha, conversando em um canto. Pensei: ‘Não posso perder esse encontro’. Aí, cheguei lá e perguntei como eles tinham se conhecido. E o papo discorreu. Imagine as histórias desses dois. São duas pilastras de simplicidade e grandeza. Por isso decidi lembrá-los aqui. Fiz um arranjo em que mudei poucas coisas, o importante era fazer essa homenagem aos dois.”

Odeon (Live At Rio Montreux Jazz Festival)
Toquinho: “Esse choro, do Ernesto Nazareth, tem uma personalidade incrível. São três partes e você não sabe qual é a melhor. Um carimbo diferenciado de uma parte da outra.”
Yamandu Costa: “São três partes tão boas que poderiam ser três primeiras partes. Tenho muitas memórias com essa música porque meu pai tocava essa música. Eu voltava da escola e levava meus amigos para vê-lo praticar.”

Apelo (Live At Rio Montreux Jazz Festival)
Toquinho: “Para mim, Baden [Powell, compositor da música] é de uma importância enorme. No nível pessoal também, porque o conheci quando tinha 16, 17 anos. Tenho muito do Baden em mim, especialmente na técnica da mão direita. Ele simplificou a bossa nova. Desmistificou a cultura bossanovista com samba, com choro. Ele tocava com a alma. E não poderia faltar nesse show.”
Yamandu: “‘Apelo’ é uma boa música para improvisar. Baden clarificou o violão brasileiro, com essa mão direita com tanta pegada. Ele representa um Brasil não elitista, que é do samba e da negritude.”

Chegada (Live At Rio Montreux Jazz Festival)
Yamandu: “Eu venho do Sul do Brasil, que é outro lugar. O Brasil é de um tamanho continental, e eu venho de outra região, de fronteira com o Uruguai e Paraguai. É uma música que tem uma harmonia feliz e brasileira, mas com uma mão direita influenciada pela cultura latino-americana. Gosto de mostrar minhas composições porque, para mim, elas são fotografias do que você gostaria de ouvir. Para esse momento solo, quis mostrar diferentes facetas.”

A Legrand (Live At Rio Montreux Jazz Festival)
Yamandu: “Escrevi essa música um mês antes do show. Nela, eu tento me aproximar das melodias do [arranjador francês] Michel Legrand, que eram tão cinematográficas. Ele foi um grande jazzista, compositor. Mas as coisas dele que fizeram sucesso foram as participações no cinema. Então nessa música tem uma aura francesa com harmonias refinadas.”

Porro (Live At Rio Montreux Jazz Festival)
Yamandu: “Essa é uma música colombiana, caribenha. Gosto de mexer assim com o repertório. De deslocar as pessoas para lugares diferentes. Da França para o ritmo negro e caribenho, com um suingue incrível. Quando viajo, gosto de levar o continente todo comigo, países como Venezuela, Colômbia, Argentina. A música é a fotografia disso. A arte pode mostrar tão bem os lugares, como se você sentisse o cheiro do local.”

Sarará (Live At Rio Montreux Jazz Festival)
Yamandu: “Aqui, com esse tema, estamos no nordeste argentino, na fronteira com o Paraguai. É uma linguagem chamada ‘chamamé’, que chega ao Brasil na região do Mato Grosso do Sul e ali é conhecida como rasqueado. É praticamente o mesmo ritmo. Essa aqui é a minha verdade mais pura, as minhas raízes gauchescas. Sempre que posso, gosto de mostrá-las para as pessoas sentirem essa verdade.”

Tua Imagem (Live At Rio Montreux Jazz Festival)
Toquinho: “Conheci [o autor] Canhoto da Paraíba muito bem. Ele ia aos meus shows com a filha. Era uma figura que tocava violão ao contrário. Era canhoto, mas não invertia as cordas. Paulinho da Viola me ensinou essa música. É um choro em duas partes. Talvez seja um músico de nome menos conhecido que outros dos quais falamos, mas é igualmente incrível.”
Yamandu: “É muito legal a oportunidade de abraçar este Brasil, de tocar música do Nordeste. O Toquinho tinha tocado Luiz Gonzaga, mas aqui colocamos uma luz em um violão brasileiro nordestino. Temos música da fronteira com a Argentina, tem choro nordestino, tem Baden no meio. Tudo se conecta.”

Bachianinha No 1 (Live At Rio Montreux Jazz Festival)
Yamandu: “Meu pai tocava 'Bachianinha'. Sempre com um ar de sobriedade, de beleza e de respeito com a música. É um tema que faz referência à música barroca, pedindo a bênção à entidade musical que foi Bach. Toquei com Paulinho [Nogueira, autor da composição] e com Toquinho. Perceba a força que este instrumento, o violão, tem em unir as pessoas. Aqui, a gente evoca Paulinho e todos esses sentimentos.”
Toquinho: “Paulinho foi como um irmão mais velho. Ele merece respeito. Era uma pessoa austera, que tocava sem unha alguma. E mesmo tocando daquele jeito, tinha uma doçura inigualável. Ele incorporava a música dele, bastava um acorde e você já sabia quem estava tocado. Tinha uma personalidade incrível, com uma grande musicalidade.”

Tracklist:
01. Toquinho - O Bem Do Mar / Saudade Da Bahia (Live At Rio Montreux Jazz Festival) (04:26)
02. Toquinho - Asa Branca (Live At Rio Montreux Jazz Festival) (04:52)
03. Toquinho - Odeon (Live At Rio Montreux Jazz Festival) (03:11)
04. Toquinho - Apelo (Live At Rio Montreux Jazz Festival) (03:45)
05. Yamandù Costa - Chegada (Live At Rio Montreux Jazz Festival) (04:05)
06. Yamandù Costa - A Legrand (Live At Rio Montreux Jazz Festival) (02:46)
07. Yamandù Costa - Porro (Live At Rio Montreux Jazz Festival) (04:32)
08. Yamandù Costa - Sarará (Live At Rio Montreux Jazz Festival) (02:16)
09. Toquinho - Tua Imagem (Live At Rio Montreux Jazz Festival) (03:04)
10. Toquinho - Bachianinha No 1 (Live At Rio Montreux Jazz Festival) (02:55)